sábado, 30 de julho de 2011

acerca das quatro estações


Se eu tivesse de compor uma música que correspondesse a cada estação do ano, pensei hoje, começaria pelo Verão, intenso e quente, depois decaía docemente para o Outono, passava pelo gélido e melancólico Inverno, das noites à lareira enroscados em mantinhas e acabaria com a frescura e a promessa de Vida da Primavera.

António Lúcio, é óbvio que esta é para ti.

apê

depois pensei que apesar de ter mudado algumas roupas, algumas ideias, ter acrescentado alguns medos à minha lista e ter retirado outros... No fundo, sou a mesma.
Continuo a ser uma fã de creme hidratante com os mais variados cheiros e marcas, e continuo a despejá-lo pelas pernas, para depois me divertir a espalhá-lo por todo o corpo, continuo com uma lista ínfima de perfumes (agora mais modestos, confesso), para usar nas diferentes ocasiões, continuo a gostar de ver as nuvens a passar no céu, a adorar tomar banho, a acordar naquele estado semi-consciente, em que respondo como se estivesse fresca como uma alface mas depois não me lembro de nada, continuo a preferir as bebidas doces, continuo com o mesmo riso patético que me torna conhecida em todo o lado, continuo a dormir de cabeça tapada com medo dos vampiros (que eu me sei que não existem, excepto nos meus sonhos), continuo a adorar adormecer com a cara em cima de um livro, porque estou sempre curiosa sobre o que vai acontecer no próximo capítulo, continuo a mudar de página para página com muita rapidez, a cozinhar muito mal, a adorar batatas fritas de pacote e chocolates de todas as marcas e sabores (menos avelãs e amêndoas)... Continuo a ser a mesma fala barata de sempre! No fundo, posso ter mudado por ter alguns amigos novos, algumas actividades novas, alguns gelados preferidos novos, manias novas, histórias novas.. Mas eu juro que cá dentro estou igual, sou eu... E eu espero que tu continues tu, apesar do muro que mandaste edificar para mim.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

da memória

Quem é a senhora para entrar na minha casa sem bater e mexer nas minhas coisas? Eu... Eu tenho uma mãe e uma irmã de 5 anos, vamos brincar mais logo. Sabiam que a minha mãe esteve aqui ainda há pouco? Eu ouço-a chamar-me nas paredes da minha casa, vejo-a a descer por um alçapão, para um sítio limpo e confortável, onde existem flores de todas as cores e muitas amoras, que podemos comer à mão cheia. A senhora faça o favor de sair da minha casa ou vou ter de chamar a guarda! Claro que sei o meu nome, sou a Antonieta, e o meu marido é Rei Sol. Oh minha senhora, acha mesmo que eu estou doida? Faça o favor de sair daqui, você de facto faz-me lembrar uma pessoa, é a cara da minha falecida mãe. O meu pai, esse morreu era eu pequena, dizem que com a minha irmã ao colo - já viu a dor de uma criança ver o próprio pai morrer-lhe nos braços? Eu sempre fui assim, sabe que sempre gostei das coisas boas da vida. Claro que tenho o meu pé de meia, mas agora não tenho meias nos pés porque o sol veio para ficar, iluminar a minha vida. a senhora sabe que a minha vida já devia ter acabado? É que quando eu tinha 15 anos aqueles circenses que vinham actuar no Natal à terra disseram que eu ia morrer por volta dos 50. Cinquenta... Cinquenta e muitos. Mas eu nunca fui de acreditar nessas coisas, é tudo pecado. Eu por acaso sempre tive a impressão de que ia morrer cedo, ou ponha lá a mão no meu coração a ver se não sente a ausência dele, é todos os dias assim, sinto que um dia sou eu a descer, às vezes pergunto-me o que ando cá a fazer, um dia a mais que ontem e um menos que amanhã. Mas deixe lá, eu tive a minha vida, eu vivi o Amor e o Ódio, eu fui a todo o lado e a lugar algum, chorei de desespero e de ódio, de felicidade, acreditei que desta é que era, tive medo de morrer, de perder as pessoas que amo... A senhora não fala muito, pois não? Diga-me lá, não conhece a minha filha? Eu tenho uma filha com quase 18 anos, ela também tem a doença que a senhora disse que tinha, se calhar até a podia ajudar que ela não percebe muito disso.. É uma menina de ouro, apesar de ser de raça ruim. Desde pequena que sempre foi muito ciumenta e má, tinha ódio aos irmãos, mas nós ensinámo-la a amá-los acima de todas as coisas. Sangue que é sangue é assim... Era muito desajeitada, mas depois tinha coisas que compensavam, um coração de ouro, quando queria, claro! E gostava muito de saber, era uma miúda com uma inteligência fora de série, só tenho pena que ela não tenha sido doutora. Ela é assim, uma cabeça no ar. Mas eu gosto muito dela. Não lhe arranja um trabalho a servir noutro senhor? Eu gostava muito, dá-me dó.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

setembro



se me abraças estás perto de mais, se me viras as costas estás longe de mais.
não sei se é do calor, se é do amor que aqueceu de mais, se é do cansaço depois de uma viagem tão atribulada... divido-me entre parar para descansar ou seguir viagem até onde der, porque não sei... não sei é a expressão que mais uso ultimamente. não sei se quero continuar, se tenho forças, se as minhas forças devem ser usadas nesta viagem... tenho medo de ficar sozinha. farto-me de certas companhia. será que me farto de qualquer pessoa? falo demais. penso demais. sinto demais. sinto de menos. penso de menos. falo de menos do que realmente importa. com medo que acabe. com medo de deixar tudo cair... porque o que houver para ficar, ficará. cada vez mais sei isso... não sei, pelo menos acho que sei.

domingo, 24 de julho de 2011

silêncio


Fico mais tempo aqui sentada, na esperança de te ver dar a volta completa. Dizes que não consegues, que não queres, que não te apetece... mas eu peço-te, por favor. Por mim.
Dizem que tenho tendência a carregar o fardo das decisões das relações em mim, mas a verdade é que isso é verdade. Porque se depender dos outros e do que lhes peço, eternamente só já estaria...

sábado, 23 de julho de 2011

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Hoje estou de mula. Afastem-se que cabeças vão rolar pelo chão! O pior é que são sempre as erradas, que eu tenho um braço torto...

sexta-feira, 22 de julho de 2011


ao mesmo tempo que te conhecia, pensei para mim "estás a brincar com o fogo". e é mesmo o que sinto. o problema é que este fogo me magnetiza, me faz estar perto, cada vez mais perto, me faz sentir bem e me aquece... estou a brincar com o fogo, e hoje cheguei a uma brilhante conclusão, tenho a impressão de que já me queimei. e agora não sei, acho que o melhor é sair pela porta grande e fingir que não me dói, em vez de me deixar arder até ao fim.
e não sei se isto é desistir do que podia ser, se é defender-me do que me podia acontecer. eu gosto de pensar que é a minha forma de ser livre. de alguma maneira.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

libra



O meu dilema do dia-a-dia é o de ter de escolher entre azul esverdeado e verde azulado. Não sei se existe felicidade à minha espera algures, mas cada vez mais acredito que ela não está fechada dentro de uma caixa de pandora à minha espera. A felicidade é como se fosse uma caixinha que de vez em quando posso abrir, que pessoas especiais me permitem abrir, e depois volta a fechar-se, e eu volto às minhas reflexões - que não matam mas moem. Muito tenho pensado, ultimamente, sob o signo do meu signo e sob o signo dos outros - tenho pensado acompanhada -, mas acabo por chegar à conclusão que quanto mais sei, menos ando, menos faço, mais ando sem sentido e mais perdida me sinto. Bem sei que é fácil de entender, que temos de nos perder para nos encontrarmos, temos de subir para saber o que é cair. Mas eu tenho medo de dar um passo que me faça cair, e depois há dias em que tenho medo que os passos que estou a dar hoje sejam na realidade as minhas grandes quedas de amanhã!

O maior desafio da minha vida é saber a medida do meu coração.






terça-feira, 19 de julho de 2011

prece um

Sou uma prisão, à qual regresso vezes e vezes sem conta. Devo ter sido amarrada em pequena, com aqueles episódios que dependem de nós para acontecerem, mas que são desculpáveis dada a idade a que aconteceram. Ou se calhar noutra vida fiz muito mal a alguém, e agora estou a pagar os males de uma alma que não me recordo de ter sido. Procuro seriamente a minha outra metade, que me compreende sem eu precisar de fazer um desenho vezes e vezes sem conta, e me faça rir quando tenho é vontade de chorar agarrada ao ombro da primeira cara que vir... Eu não preciso de uma pessoa qualquer, eu preciso da pessoa certa para mim. Agora, não sei se sou eu que sou lenta a procurá-la, se é ela que não está a colaborar em ser encontrada, ou se já a encontrei e passei ao lado. Mas já agora, gostava de ser tão para ela quanto e tão boa como ela for para mim, por favor. Chega de amar só de um lado, Deus. Obrigada.

domingo, 17 de julho de 2011

mecanismos de compensação

Hei-de ser sempre aquela pessoa que quando chega a um sítio vai comentar sobre a nódoa que leva na camisola, ou a bainha mal feita, a franja torta, o cabelo despenteado, o estrabismo, as mãos sapudas, a gordura acumulada, a maquilhagem borrada, no quão os outros me faltam e eu lhes faltei, na minha incapacidade para dar o salto que todos acham que eu já devia ter dado há que tempos. Assim, ao longo do tempo, começou a formar-se em mim um tipo de mulher que eu gostava mesmo de ser. Aquela mulher que chega e é a sala, é as pessoas, que se mexe como se fosse dona do mundo, que quando ri traz alegria a todos os que a vêem, que ilumina uma sala com o olhar e o sorriso, está perfeita mesmo de pijama ao acordar, que é uma princesa quando come no MacDonald's e suja as calças com os molhos, ou quando ri de boca aberta cheia de comida.
O que a vida me tem ensinado é que a mulher que eu gostava de ser, no fim de contas, maquilha-se para esconder o achar-se horrível sempre que olha para o espelho, se sacrifica todos os dias para ficar com a barriga do acordar, se rodeia de pessoas porque não suporta ficar sozinha e a solidão, sempre a solidão e o desespero. Tenho vindo a descobrir que aqueles mulherões que eu admiro quando chego a uma festa, no final também já se sujeitaram a coisas horrendas na esperança de serem amadas, tal como eu. A mulher que eu queria ser sou eu, um degrau acima.
Foi assim que decidi que a minha nova mulher protótipo já não é a princesa dos contos de fadas, sempre impecável no seu vestido e na sua roupa e cabelo. Para mim o mais bonito do mundo é quando uma mulher tem coragem de sair para a rua no seu pior, e mesmo assim não tem problemas porque sabe que pode ser o que quiser e fazer o que quiser. Que está onde quer, uma espécie de dona do seu destino, que conseguiu fugir da prisão do ser mal amada. E isso não é oito nem oitenta, é algures no meio, no equilíbrio da perfeição.

engolir sapos

Até posso aceitar que faz parte da vida, mas porque é que me cabe sempre a mim fazê-lo?

sábado, 16 de julho de 2011

do amor em dias frios e de vento

Estás do outro lado da tempestade, talvez a pensar em mim, e eu queria que estivesses aqui, a minha mão na tua, o teu peito a suportar a minha cabeça, deitados na cama, a olhar para o tecto onde ia estar a passar o nosso futuro projectado magicamente. Queria muito saber que vou caber no teu coração, cheio e atafulhado de coisas, que não sou grande de mais para ele. Que vou poder pôr as minhas mãos nas tuas feitas de bocadinhos de nuvens, num dia à noite tu vais dizer "Posso ir para ao pé de ti?", e silêncio, claro que podes, eu gosto tanto de ti, no escuro, "Porque é que não me dás um beijinho, estou a pedir!" "Aqui não é o sítio", estamos na Baixa Chiado e está frio, tu tens aquele ar de actor dos anos 70, e és o mais lindo do mundo, em ti qualquer perfume parece que me deixa sempre assim, eu sigo-te, e gosto tanto de ver os teus amigos verem-me ao pé de ti, não sou a tua namorada mas quase, tu és mágico e nos teus olhos cabem mil sonhos, sabes tanto sobre tanta coisa, e eu quero saber-te todo. E um dia abro a porta do elevador e ali estás tu, de verde, lindo, mais lindo que nunca, e eu não sei o que fazer "O que é que vieste fazer?", hoje pergunto-me se foi aqui que tudo começou, apeteceu-me abraçar-te, estavas lindo, fui tão parva em não saber aproveitar as tuas mãos e os teus braços e os teus beijos, e quando me cantaste "There is a Light That Never Goes Out", quando me rodaste ao pé da Torre de Belém, quando me abraçaste mais, muito, e eu soube que era tua e tu eras meu, agora e até onde eu deixasse e tu nos levássemos. Tenho saudades de te conhecer, de te aprender, das discussões, das lágrimas, da falta de ar, de me apetecer gritar, do medo, das certezas... Às vezes parece que estamos a morrer por dentro, aos poucos, e eu penso se será que a vida é isto.
Estás do outro lado da tempestade e eu sinto que devias estar aqui, hoje mais do que nunca sinto a tua falta, do teu cheiro, das nuvens, das tuas mãos e do teu riso, de ti. E sinto que quando estás deste lado da tempestade é como se parte de ti nunca saísse de lá longe, sinto-te sempre presente e ausente, como se tivéssemos deixado um rasto de magia pelo ar que não conseguimos agarrar, não queremos, não podemos. O meu coração fica nas mãos quando penso que uma vez te disse "A nossa relação é como um bocado de gelatina que está a cair-nos pelas mãos. O que é que farias agora?", e tu respondeste. Eu sei que estamos no mesmo barco, agora sei que talvez eu seja realmente grande de mais para caber no teu coração, mas que tu pertences ao meu, que ninguém, nada poderia fazê-lo bater tão depressa e tão bem ao mesmo tempo.
E sei, tenho a certeza de que fomos as pessoas mais felizes que podíamos ter sido, juntos. E tenho a certeza que amanhã ou depois o sol regressa, os meus olhos nos teus, sem medos e gritos, a felicidade é efémera mas enquanto durar eu estou por cá.

sexta-feira, 15 de julho de 2011


És um fogo a arder, às vezes lentamente outras vezes com todo o vigor. Sempre acreditei que escondes coisas muito preciosas, e só precisei de um passeio dois a dois para saber que ias ser para sempre. Sabes de mim mais do que muitos, és para mim um porto de abrigo, dizes-me o óbvio que a minha consciência dita e o meu coração esconde a todo o custo... Dás-me abraços quando sentes as lágrimas na minha garganta, vais embora mas eu sei que é um "até já", pelo menos acho que sei.
Somos as criaturas mais comichosas, instáveis, inseguras, sonhadoras, conversadoras, apaixonadas, traumatizadas, chatas, sensíveis, e psicóticas que conheço juntas! E gosto disso em nós. Gosto muito.
Deus dá-nos o frio consoante a nossa roupa.


Mas eu não acredito!

domingo, 10 de julho de 2011

sonho de uma noite quente

Ontem veio-me uma imagem mental perfeita de como me sinto ultimamente:

Existe este mar, que parece calmo e frio, lá longe. Mas este mar, aparentemente calmo, tem muitas armadilhas. E eu consigo-me imaginar, a ser puxada para baixo, a desintegrar-me por baixo, embora aparentemente seja banhada pelo dourado do sol, esteja feliz e contente. Nas cores do pôr-do-sol sempre me senti especial, única, como se o sol quando se põe me pudesse revestir de uma unicidade e de uma magia que não consigo ter noutra parte do dia (nem ao amanhecer). Por baixo, a escuridão impera e aos poucos a corrente está a puxar-me para baixo. E eu não tento mudar a ordem das coisas, estou feliz mas ao mesmo tempo é como se gritasse com os olhos, mas ninguém vê. Sinto-me emudecer, apetece-me gritar mas não há ninguém que me consiga ouvir. E eu vou descendo, lentamente, suavemente, como o sol no horizonte.

sábado, 9 de julho de 2011

ode à vida

Quando era pequena sonhava com uma casa grande e dois filhos, de cabelo encaracolado como o meu, sorriso largo, morenos como o pai, olhos castanho avelã. O meu marido ia ser piloto de aviões, e ao fim-de-semana iríamos todos passear num avião privado, ver a nossa casa de cima e dizer "Olha a avó, está a acenar", e depois tirávamos uma fotografia que a avó iria emoldurar e colocar à entrada de casa. Nos meus sonhos havia sempre uma música calma, o meu quarto ia ter uma cama daquelas de estilo Imperador, com véus rosa e brancos à volta, e eu estaria lá à espera do meu marido com um fato de noite de cetim, cor malva ou marfim. Às vezes, podia usar o vermelho. De manhã, ele trazia-me o pequeno-almoço e depois dele chegavam os miúdos, e na cama caberíamos todos. Íamos ser felizes. Depois fui crescendo e deixei de sonhar.
A minha vida consiste em acordar e ir à procura de anúncios. O meu filho dorme na cama ao lado, não temos quarto para ele, e nem sei se teremos capacidade para pagar a nossa casa muito mais tempo. Vivo com um homem que mal conheço, quer dizer, que sinto no escuro e no frio do nosso quarto, ele sai cedo e eu também, porque esta casa é pequena demais para eu ficar sozinha com o meu filho. Antigamente sonhava com coisas bonitas para mim, hoje em dia tomo um banho por semana, para poupar água e tento não pensar. Não tenho trabalho, tenho um filho para criar. Tem os meus caracóis e os olhos do pai. Quando fica apreensivo, faz a cara do tio. Vê-se que quer viver, mexe-se muito, mas ao mesmo tempo salta de colo em colo, nunca está bem. Chora de noite e eu às vezes gostava de o poder pôr num local onde não o conseguisse ouvir. Está do meu lado da cama, por isso sou eu quem tem de ir ver o que se passa com ele. Todos os dias usa uma fralda nova, come uma papa nova, toma um banho novo, faz uma coisa nova. E às vezes cansa-me. Não sei o que é que o amanhã me reserva, só sei que a novela acaba no mês que vem, tal como o meu subsidio de desemprego. E depois, vou ter de procurar mais e mais.
Todos me dizem que nunca temos o que sonhamos da vida, que as coisas simplesmente acontecem. Eu tive o que queria, mas na ordem inversa, da maneira errada. Não desejo mal a quem me destinou a esta vida, só gostava de ter nascido do outro lado do mundo, ou num sítio onde façam muitas histórias de encantar. E cá me vou aguentando...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

talking cure

Cada vez mais acho que para mim falar é um meio para a cura e às vezes é a cura de muitos problemas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

feridas

Há cerca de um ano atrás, enfrentava a decisão sobre que rumo dar à minha formação académica. Queria ir para aquilo que queria, mas dentro do que queria, existiam várias opções, o que dificultava bastante a minha escolha. Assim, escolhi baseando-me naquilo em que acreditava.
Quando temos uma ferida há várias coisas que podemos fazer para a tratar. Podemos pôr água oxigenada e esperar que passe, podemos pôr aqueles pensos que são vendidos nas farmácias, para irem cicatrizando a ferida, podemos drenar todo o organismo com chás purificantes ou fazer tudo junto.
Para mim, dentro de uma ferida há sempre uma poeira fininha, que às vezes mal se vê, mas que se sente, que arde lá dentro, e é a essa poeira que é importante chegar, por mais que isso doa, que os outros achem desnecessário e uma perda de tempo, quando a ferida em questão se resolvia muito mais rapidamente e sem causar tanta dor e trabalho. Mesmo que seja preciso cortar a pele que está boa à volta, para chegarmos a essa poeira que espalha o veneno e infecta de dentro para fora o nosso organismo. Eu acredito que para crescer temos de sofrer, que as perdas nos ensinam sempre coisas novas e que não é virando a cara para coisas bonitas e passando panos quentes por cima das coisas que eles vão passar. Eventualmente até vão, mas uns anos, meses, dias mais tarde elas voltam, e no dobro ou no triplo do tamanho.
Bem sei que isso faz de mim uma pessoa pessimista, que pensa demasiado no que não deve, que explora por caminho que deviam continuar imaculados... Porque escavar nas nossas próprias feridas dói muito, eu sei que dói. Mas se ficarmos à superfície, nunca vamos resolver nada da nossa vida, e a ferida vai inchando, inchando, até que um dia tomou conta de nós e nem demos conta.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

sede

Sento-me e só quero levar o que tenho à minha volta, para que tudo possa desaparecer.
Quando falavas para mim era um sonho, davas-me segurança - lembras-te daquela vez em que ficámos as duas em casa, eu com medo dos barulhos que vinham da rua, tu a jogar computador e a falar sobre as histórias da tua infância, eu sempre atenta? eras tão inteligente e não podia haver mais ninguém de quem eu gostasse tanto. Às vezes gritavas, ameaçavas que ias embora, eras rabujenta, mas nunca me desiludiste, sempre fizeste o que tinhas para cumprir. Sempre te entendi melhor que os outros porque me identifiquei com a tua dor, e no fundo, sempre quis tirar-te o passado e ficar com ele para mim. Ninguém merece a vida que tiveste, a cabeça que tens. Gratidões eternas, rejeições eternas, uma vida feita de sonhos, de seres a melhor para as pessoas erradas e ignorada por quem devia considerar-te e amar-te. Contigo sentia-me protegida, mas ao mesmo tempo sempre te quis proteger, nunca quis que sofresses com os meus erros e com os dos outros. E principalmente, os teus.
Durante anos pensei todas as noites que era um erro, e como é que seriam as coisas se eu não estivesse cá. Sem vestidinhos, cueirinhos, óculos partidos em arbustos, gritos pela casa durante anos, birras, choros, bonecas pelos cantos... Se calhar eu sou um dos teus maiores erros, tanto que já não és capaz de olhar para mim e de falar a minha língua, ficamos sempre no mundo do silêncio e do sono - não durmas no carro quando eu vou lá dentro, põe o cinto, fala sobre qualquer coisa menos aquilo de que falas todos os dias e que te preenche a cabeça e os pés. Estou cansada de fazer perguntas para o vácuo, contar coisas ao vazio, não sentir emoção nenhuma quando regresso, e uma sensação de tirania quando vou embora. Há anos que procuro indícios de que fui um erro que resultou bem, mas cada vez mais vejo que fui um erro que só trouxe problemas, mais do que vantagens. Mas se calhar penso mais do que tu sobre isso, porque pensar é morrer...
Esta mania que temos de querer moldar as pessoas à nossa maneira e daí fazer depender a nossa própria felicidade, matou-nos. Tu, puseste a tua felicidade nos outros, eu em ti. E ambas caímos, não sei se já deu para reparar. Os outros nunca vão ser o que querias deles sem os aceitares primeiro, e tu nunca vais ser o que eu quero se eu não te aceitar como és. Ao mesmo tempo, queria que me desses a chave do teu coração, onde pelos vistos há tantos destroços, mas não há lugar para mais um, eu.
Sabes uma coisa? Tenho sede de ti, do teu amor. E parece que nunca vai passar, essa sede. És como uma garrafa que estava a acabar quando eu nasci, e da qual eu só fiquei com uns restos. E agora, nada consegue substituir essa falta.
As teorias não nos valem de muito quando cá dentro a prática nos despedaça... Mas a teoria aqui encaixa muito, excessivamente bem.