terça-feira, 18 de dezembro de 2012

a minha vida parou na letra A, duas vezes

Dormes de lado, virada com as costas para a parede com medo de invasões dos teus sonhos - os senhores que entram pela varanda, que arrombam as janelas, aqueles que saem de aviões que sobrevoam a casa -, e também aqueles que batem à porta, e a tua mãe não se dá ao trabalho de ir ver quem é à janela, quando dá por eles estão na cozinha, sala, casa-de-banho, no teu quarto. Na garagem, e pegam nas ferramentas e destroem tudo o que está dentro de casa.
Em cima do móvel ainda tens os brinquedos que não te deixavam tirar da caixa para brincar, aqueles que esperavas um ano por ter (porque quem faz anos perto do Natal está um ano à espera, não é? Sortudos dos que nascem em Junho!)?... E uma caixinha no fundo do armário com todos os amores não correspondidos, todos os recortes de revistas, jornais, cartas trocadas, parvoíces e tesouros privados? Acho que ainda deves ter tudo, para te lembrares a ti mesma da insistência, se há coisa na vida que sempre tiveste é teimosia e persistência. Como me dizia a tua mãe "Ela sempre sofreu muito dos nervos, sai a mim... Mas é casmurra!". Se quisesses uma casa nas nuvens, tenho a certeza que o teu pai por esta altura já a tinha acabado de construir! E a tua mãe estaria atrás de um qualquer cortinado a lamentar-se, olhos cheios de água, porque ninguém gosta de ser a segunda numa relação já perdida desde o início. Ela só sofre dos nervos, não é casmurra... E isso diz muito.
Quanto a sofrer dos nervos, nunca soube bem o que é isso, mas agora que penso ao longa da minha vida sempre tive tendência vincada para ter amigas neste género. Uma atracção pelo melodrama e sofrimento alheio, para preencher o meu vazio a cuidar dos outros? Ou isso, ou nasci para a maternage. Ou é propinquity - nos locais por mim frequentados existe uma grande percentagem de pessoas que sofrem "dos nervos". E mais: passados 20 e tal anos, se fizer uma revisão ao passado... Acho que também para lá caminho!