sexta-feira, 12 de agosto de 2011

queridas,

Queridas,
Espero encontrar-vos na melhor das formas, com muitas tonificações e cremes faciais para as rugas. Por cá está tudo bem, tenho estado todo o dia a olhar para a parede enquanto vos vejo a conversar umas com as outras. Pergunto-me se serei eu que sou feita de tinta transparente ou se serão vocês que têm todas uma ligação metafísica que me transcende e não consigo entender. De todas as vezes que entramos em contacto, trocamos galhardetes, dizemos coisas para ver quem é que ganha mais, quem é que passeia mais, quem sofre mais, e claro, somos meninas, ladies, maravilhosas, divinais, temos de falar sobre que tem a roupa mais gira, mais gira e mais cara, de preferência. Quem tem a história de amor mais aventurosa e apaixonante para todas ouvirmos como se estivéssemos no cinema, mas de borla. Darmos palpites, fingir-nos indignadas, e de preferência no fim dizer sempre "ele não te merecia, tu és melhor que isso pá! Vamos sair e isso passa". Se calhar é suposto acharmos que todas somos lindas por fora e por dentro... Desculpem, mas a todas vos acho defeitos e males interiores, umas mais oferecidonas, outras mais ressabiadas, umas mais retraídas, outras mais vazias por dentro... Se calhar não é tinta invisível, tenho mesmo é o manto da maldade em cima de mim!
Mas como maldade acho que todas nós, fofinhas e lindas, temos, o que me distingue de vocês é não ter uma história de amor, acção, pancada, sexo sórdido, perseguições, balas de armas de 4 mm, homossexualidade, pessoas portadoras de deficiência, mar, fogo, ar e terra, entendo que me excluam do âmago dos acontecimentos. Ressentimentos, eu? Jamais, Salomé! A minha história é banal de cortar os pulsos, é amorosa, mas não houve pancadaria, nem gritos, apenas um amor de mãos dadas e beijinhos ao entardecer, debaixo de um telheiro onde as andorinhas na Primavera fazem os ninhos. Ah... E se calhar talvez vos enerve o meu ar de enfado quando chegam com os olhos sedentos, como quem diz "sabias que", e depois eu venho a perceber que cada vez mais sei tão bem os vossos fins, princípios e meios que chego a ter sono, porque às tantas vos conheço melhor do que vocês mesmas. Queridas, deixem de se enganar a vocês próprias e depois venham falar comigo, sim? quer dizer, com o meu assento, que agora vou seguir caminho. Pregar aos peixes é bem melhor, que eles viram-me costas quando eu lhes digo para fazerem o que não faço!

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