domingo, 24 de janeiro de 2016

a história da minha resolução de ano novo

Estava no final do ano quando os braços que se me estendem não chegaram até mim. Quando tive de andar sem rede por baixo.
A fazer o que mais odeio na vida: tomar decisões. Cada decisão que tome vai invalidar, sempre, novas escolhas, alternativas, cada caminho que tome vai eliminar cem mil outros caminhos, outras pessoas, outras coisas.
Dizem-me que uma pessoa "como eu" (o que quer que isso queira dizer) tem de ter objectivos, de saber para onde quer ir, porque barco parado não segue caminho... Que tenho de ser a diferença que quero ver no mundo....
Num dos dias em que estava sozinha, irritada com tudo, decidi começar a furar uma corrente - se toda a gente está a ir no sentido contrário ao nosso, se calhar isso quer dizer que estamos no caminho errado, mas eu sempre achei que sou uma anti-sistema, por isso ia andando, cada vez mais depressa - andei tanto que o dia começou a escurecer e eu era novamente pequena, a desejar que a minha mãe percebesse que a estava a chamar por ela, algures, perdida. Na rua, não avistava ninguém. Eu, sem telemóvel, a desejar ter um objectivo, a desejar braços que me apertassem e dissessem que ia ficar tudo bem. A dada altura, decidi que o melhor era voltar para trás. Lembrava-me que o senhor me tinha dito esquerda, que eu tinha seguido, esquerda e depois direita - a questão é que não encontrava a direita. Voltei a andar, andar, andar, noite escura, a desejar ter alguém a quem perguntar onde é que poderia ir ter, alguém tem um carregador para o meu telemóvel, não, não é um i-phone, deixe lá que eu não vou morrer por causa disso. Depois de meia hora encontro o meu destino. Ouço vozes conhecidas, crianças, uma família cheia delas. Uma menina que vem a correr em direcção a mim para dar um beijinho e um abraço, eu sem reacção...
Há uns dias, e pela segunda vez em menos de um mês a morte a uns centímetros da minha cara, porque vou rápido de mais, o meu coração a falar mais alto, e de repente mil objectivos, mil decisões, mil coisas que mudava já ontem na minha vida. Essencialmente, as pessoas, não as quero ver apenas em funeral (seja o meu ou o delas), lamentar-me porque éramos amigos, família, conhecidos, daquilo que podíamos ter sido, enquanto eu andava a pensar o que fazer com a minha vida.

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