quarta-feira, 27 de abril de 2011

Continuum

Existe sempre, algures, uma senhora que vive numa casa rodeada de gatos, fétida. A senhora é obesa e passa a manhã sentada no sofá a ver televisão, com a bata vestida, enquanto aprende dicas de amor e muda de canal, para saber quais os crimes mais badalados do país e quais as maiores desgraças, e vê pessoas a provar comidas exóticas que parecem melhor do que aquilo que sabem. Um dia deseja ir à televisão e pedir uma ajuda monetária para tapar a brecha que deixa entrar água em casa, mas por enquanto vai usando baldes para o chão não apodrecer (mais). Pode ser que lhe ofereçam roupas novas, dessas de boutique, com o tamanho adequado para ela, e mais caixas para os gatinhos fazerem as suas necessidades.
A sua rotina passa por ir até ao Supermercado, não vão os gatos morrer à fome, e passar da cozinha ao sofá, do sofá à sanita, da sanita ao sofá, do sofá à cama... Os gatos vão-se multiplicando em todo o lado, fazem ninhos, afiam as patas nos sofás e nas cadeiras, dormem ao sol e na cama da dona. Miam quando têm fome e já sabem os finais das novelas que dão até à uma da manhã, todos os dias menos ao Domingo, dia de deitar mais cedo, e rezar o terço pela alma do falecido marido.
Quando morrer, espera que os vizinhos sintam a sua falta e entrem porta dentro, para confirmar o cadáver frio e branco na sala... E de preferência que morra em paz e sem dor, por favor, e não fique muito tempo a penar no Purgatório...
E que alguém mude a areia aos gatos!

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